30.9.14

As revistas negras_o maravilhoso mundo onde o barato não podia sair mais caro

De há uns anos a esta parte que acho que não existem publicações escritas destinadas a mim e é muito raro não me arrepender de comprar alguma.

Não sou target das femininas, as negras de que vou falar, muito menos das cor-de-rosa, vá de retro satanás, já fui das generalistas mas começaram a enfadar-me, entristecer-me e chatear-me ao mesmo tempo que me começou a destabilizar demasiado o mundo, já fui das "educativas" mas começaram a tornar-se demasiado especializadas, neste último caso a culpa reside em mim e não nelas.

Sempre fui do target das baratas é certo porque o dinheiro nunca me cresceu até hoje em nenhuma arvore, fora dessas não tenho meios para fazer avaliações mas é muito possível que muitas me pudessem cativar, talvés um dia, rezem por mim!

Quando folheio/leio (preciso de estar muito desesperada, tipo na sala de espera do médico dos dentes para arrancar um siso) uma revista cor-de-rosa fico enojada, quando leio uma coisa tipo correio da manhã fico enojada e angustiada, quando leio uma revista feminina fico triste.

Ontem veio-me parar por obra do acaso uma às mãos, e já nem me lembrava bem como era, mas o facto é que não mudou muito dado aquilo de que me lembro.

Página sim, página sim perfumes para fazerem de mim uma princesa, linda, magra, rica, cremes para uniformizarem a minha pele marcada pelo passar dos anos, esses malandros que deixam poros abertos, marcas execráveis, sinais obtusos.

Página sim, máscaras para "eclipsar todos os meus defeitos", fiquei a pensar se eclipsariam a minha tendência para a problematização entre outras piores.

Página sim, sapatos que me fazem voar mesmo com os pés em sangue, malas com certamente dentro muito dinheiro para gastar e claro muitos produtos belissímos para fazerem do meu cabelo uma estrela brilhante que me fará singrar em tudo na vida, quer esteja a lavar o chão, a limpar o sarro das unhas, a despejar o lixo peganhento ou a mudar a emaculáda fralda ao filho que heide ter.

Nas páginas não vi imensa coisa para comprar para além do que estava inteiramente ao meu dispor nas páginas sim, artigos sobre sexo, como se eu já não soubesse o que há para saber, como se de uma coisa natural fizesse sentido fazer uma coisa artificial, processada, cheia de conservantes pulvilhados de corantes para dar vivacidade ao que não podia ser mais vivo se deixado em paz.

Nas páginas não conversetas sobre o feminismo, sobre as mulheres como nós! Com empregada doméstica que lhes faz as refeições, com  filhos em colégios conceituados onde tem oportunidades únicas, o pão nosso de cada dia! Pessoas assim iguaizinhas a nós, mães, empresárias, mulheres! Morenas, que fazem lipoaspiração antes do verão para irem secas para as maldivas banharem-se em água mornas!

Nas páginas não passerelas, brancas, esqualidas, com fome, com sede, mas com tanto glamour...

Pagina não, maquilhagem, pós, corretores, blush, máscara, pirlimpimpins aos montes, merda ás colheres. Perca 7Kg, perca 10, perca 20, perca tudo, perca-se porque dá menos lucro se se encontrar.




Página não, um artigo de valor! Oh sim ainda á esperança!

Mas ah, página não e um artigo sobre uma banalidade e outra e mais uma que só duas é pouco.

Chegada ao fim olho para o meu cabelo, para as minhas mãos, para a minha cara, para a minha barriga, para o meu rabo, para o meu cotovelo, ai que doi!, para o meu dedo mindinho, para a ponta da minha lingua para o caralho da minha existência e penso, nasci no sitio errado ainda assim tenho mais sorte que biliões de pessoas que tiveram o infortunio de nunca se poderem preocupar com um ponto negro que têm na cara.

Atenção que estas revistas são essencias e fazem todo o sentido dada a realidade económica em que vivemos, em que eu vivo, realidade que me dá de comer mais porcaria do que era preciso, que agora não passo sem nutela para afogar a porcaria das mágoas por ter deixado passar mais umm dia, por isso se me estiver a ler, não tiver nadica de nada contra as revistas negras e estiver a pensar, mas esta cabra vem para aqui mandar postas de pescada por tudo e por nada, se está mal que se mude! Eu sou levada a concordar, tem toda a razão.

Entretanto pergunto-me, existe alguma hipotese de não ter de me mudar porque isto um dia vai ser de outra maneira? Não sei, gostava que houvesse luz ao fundo do túnel, mas às vezes acho que era preciso nascermos todos outra vez com a sabedoria inata de que nunca seremos a última daquelas bebidas pretas com gás do deserto.






Rubrica: Spoiler profissional: Maléfica



Pois é que nem só de coisinhas de culto e não sei quê vive o homem. Mas isto da Maléfica me ter aparecido na cama tem uma história engraçada.

Somos uns procrastinadores de filmes, eu e o Davi, mas este fim de semana enchemo-nos de força de vontade e foram dois.
Bem eu enchi-me de vontade e passei mais de meia hora a insistir baixinho a berrar para ele me aparecer na cama com uma porcaria de um filme de uma vez por todas. E assim foi. Ele apareceu...com a Maléfica, alta mas esguia, ao que parece a unica que coube na pen disse-me ele! Mas que raio de merda de pen é essa, disse eu, manda isso fora! onde é que estão as nossas 1001 penes?

Não interessa, o que é certo é que fui extremamente preconceituosa com a Maléfica e vi-me obrigada a engolir todo o meu desdém. De vez em quando acontece e não é nada doce.

A deusa, a Angelina, também nem sempre se vende por grande coisa e tenho sempre receio, que se à coisa que abomino é perder tempo, sossegadinha, a arranjar um belo de um torcicolo deitada na cama a olhar para um portátil, por causa de um filme.

Se tal acontecer no cinema então, só ainda não subi paredes.

Bem mas agora o filme. É interessante. Evidência duas coisas através de uma história de encantar, com o cliché do universo de nicho das princesas e dos principes, duas coisas essas que nem sempre nos facilitam a vida, a tomada de posições. Por um lado mostra que as pessoas são o que são por via das suas experiências e por outro constata o que só não sabemos se formos muito ingénuos, e que se prende com quase ninguém ser 100% mau ou 100% bom.

Ou seja existem razões para uma bruxa ser bruxa, pois ninguém nasce com esse legado, assim sendo uma princesa pode ser bruxa.  Existe também quem pareça ser bruxa e não o seja, existem bruxas que não são boas nem más, existem umas que apesar de assustadoras até são quase só boas. Por exemplo a Mcgonagall do Harry Potter, concordam?



Outra coisa que o filme aborda é que o amor existe para além do casal apaixonado, do principe e da princesa loiros, bonitos, magros ou até verdes e fionos como no Shrek. É que podem existir nomeadamente amores mais genuínos do que aqueles que podem advir da paixão. Amores que nunca foram paixões como é o caso do amor que a maioria das mães nutre pelos seus filhos.

Ainda outra coisa que o filme aborda é sobre como a ambição pode cegar, pode destruir, pode impedir a felicidade, pode inviabilizar a amizade e até na verdade o efectivo amor próprio.

O que me chateou no filme é não haver nenhuma personagem masculina que fizesse sombra à beleza da musa, achei mal, gosto muito dela, mas uma coisa da Disney sem um moço assim mesmo jeitoso...bem não estava no écran mas estava quiçá ao meu lado ;)

Enfim, gostei, tudo fica bem à magnífica! Chapéus aos montes, casacos de peles, saias rodadas, enfim, mantos de bruxa.


28.9.14

Rubrica: Spoiler profissional?_Trainspotting


Mark "Rent-boy" Renton: [narrating] Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suit on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pissing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourselves. Choose your future. Choose life... But why would I want to do a thing like that? I chose not to choose life. I chose somethin' else. And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin?
Bem esta introdução nilista é provavelmente melhor do que qualquer coisa que possa escrever, de qualquer forma não faz mal, o que importa é tentar.

O tema do filme: pessoas que num fatídico dia escolheram um tipo de vida dos mais difíceis de a certa altura renunciar, felizmente pouco, apesar de demasiado comum, uma vida que tal como todas as outras representa uma prisão, com um tipo de encarceramento que tal como em todas as outras formas de vidas foi escolhido, foi abraçado, tornando-se no lugar seguro, aquele onde se considera ter controle.

As drogas representam a fuga pelo prazer, a destruição pelo prazer, a inexistência de qualquer outra coisa, porque se vendeu a alma a esse vilão diabólico, comprando-se coisas quase que imateriais que arranjam caras junto dos anjos demoniacos. Prazer este que quando impossibilitado produz muito provavelmente um dos tipos mais atrozes de sofrimento.

Porém apenas a 1ª experiência com drogas como a heroína, aqui neste filme a droga dura retratada, consuma uma escolha, portanto a escolha da fuga pelo prazer físico como único fim da vida, resulta de um caminhar sem respostas pela vida onde se percorreram caminhos onde foram havendo bifurcações e onde num ponto se escolheu uma estrada com muito poucas saídas, onde se anda por meio de um nevoeiro cerrado.

No filme vamos apreendendo aquilo que consuma a existência de seres humanos comandados pela heroína, que heróica os deixa cidrados, ao protagonista e aos seus amigos possíveis.
Vamos percebendo o encadeamento das circunstâncias das suas vidas, muito pouco flexível, muito monótono, muito apenas liderado por uma única coisa.

Temos às tantas oportunidade de assistir à luta contra o vício. Directamente proporcional no que diz respeito à sua dificuldade, face ao prazer proporcionado pelo dito. Ou seja uma droga como a heroína representa o binómio mais antagónico de prazer/dor.

Temos também acesso a algumas das possibilidades macabras de acontecimentos em contextos dominados pela droga. Em que as maiores vitimas nunca puderam escolher o que quer que fosse, em que aqueles que tinham força para resistir à voz doce e extasiante da sereia podem ser os primeiros a morrer envenenados porque estavam no lugar errado à hora errada numa circunstância menos pacífica das suas vidas.

O filme é bom, é visualmente bonito, é cativante, é angustiante, é até aterrorizante às tantas, a vulnerabilidade do ser humano nunca deixa de ser chocante por sermos todos um. Põe em causa a vida ao mesmo tempo que mostra o que é não viver, o que é ser escravo de uma só coisa. E isto se é para viver na escravidão que seja com diversidade.

Sobre o nome, que deixa muita gente a pensar.

Trainspotting ou "ver passar comboios" é um hobbie que existe, que tem nomeadamente livros associados, onde os comboios em circulação estão listados e o objectivo é ve-los. De cada vez que se vê um assinala-se no livro e segue-se para o proximo. Esta actividade torna-se desafiante porque algumas composições são difíceis de localizar.

E o que trainspotting, o hobbie,  tem a ver com o filme homônimo? Bem, o filme trata de alguns jovens bastante envolvidos com as drogas e o mundo das drogas, sendo que as suas vidas se resumem a isso. Como diz Irvine Welsh, o autor do livro no qual se baseou o filme: “Trainspotting é uma atividade fútil. Exatamente como é o uso de drogas.”

Para além disso “matar o tempo vendo comboios passarem” é uma actividade a que os viciados em heroína na Escócia se dedicam enquanto estão sobre efeitos de estupefacientes.

Ficar a ver comboios passarem também pode ser tomado como a atitude passiva de quem permanece impávido enquanto a vida passa, toma novas direcções, segue diferentes destinos.




Trainspotting (1996)

  -  Drama  -  19 July 1996 (USA)
8.2
Your rating:
  -/10 
Ratings: 8.2/10 from 369,593 users   Metascore: 83/100 
Reviews: 490 user | 129 critic | 27 from Metacritic.com
Renton, deeply immersed in the Edinburgh drug scene, tries to clean up and get out, despite the allure of the drugs and influence of friends.

Director:

 

Writers:

  (novel),  (screenplay)

Fontes:
http://www.teclasap.com.br/trainspotting-o-significado-e-muito-mais/

http://www.cinereporter.com.br/criticas/trainspotting/


Nova rubrica: Cuidado pode estar aqui uma Spoiler profissional

Olá outra vez, bem têm-me faltado ideias sobre coisas de escrever, pois bem pus-me a ter ideias e achei que era giro\interessante\bom para mim escrever sobre filmes que vou vendo, muito menos do que gostaria, mas sou uma pessoa cheia de sono a partir das 10 da noite.

Esqueço-me de muito do que vou vendo por isso acho que uma rubrica deste género vai ser boa para cravar certas coisas na memória. Vou escrever sobre filmes assim como calhar, por isso ficam já avisados que podem haver spoilers insensíveis em qualquer lado.


20.9.14

A perfeição nos Homens só existe nas suas criações


Se há dinheiro bem gasto é aquele que se despende para assistir a um concerto, ver uma peça de teatro, rir e suspirar num espectáculo de circo, sem animais naturalmente, amestrar animais selvagens é uma selvajaria.

Enfim, ir a este tipo de "acontecimentos" é  assimilar a beleza do homem no seu estado mais genuíno, transcendente, apaziguador e fomentador de esperança. Porque apesar de termos entre nós das criaturas mais atrozes que já pisarem a face da terra, de fazermos parte da espécie desumana, os bons compensam os maus, a beleza de existirem pessoas capazes de fazerem nascer algo melhor e maior que elas ameniza o resto do que nos apraz saber sobre o que se passa neste bocado de nada, pelo qual tantos matam e morrem, perdido no meio do universo, insignificante como todos nós.

Isto que os maus, os bons, os nojentos e os queridos não passamos apenas de matéria irrelevante.

Mas ah a música, a dança, a pintura, e tudo resto que consuma o talento das pessoas em matéria também naturalmente irrelevante, mas irrelevantemente talento criado pelo amor, pelo esforço, pela perseverança.

Sempre que saio de um espectáculo, e até agora nunca sai desgostosa, sai exaltante, feliz, contente, aos saltinhos e piparotes, com mais alento para levar a vida para a frente, porque há vida para além da degradação, há vida para além da mediocridade, há vida além da tvi e do correio da manhã, (Lá está ela a bater nos ceguinhos de sempre!) há vida para além do escárnio e do maldizer, se há vida para além da morte isso não sei dizer. Vida para além da maldade é que infelizmente muitas vezes não há.

Acredito que a cultura nos pode salvar, acredito que ensinar a ver a beleza que está às frente dos olhos de todos pode mudar o mundo.

Por mais que tenhamos de poupar, gastar dinheiro para ver arte, desde o artesanato da festa da cidade, ao concerto de musica clássica no largo do teatro, nunca nos deve pesar na consciência, à que ir, à que ver, que sentir e que reflectir, à que deixar sermos tocados pela mão do esforço, da vontade e do sonho. (Acho que estou a ficar tão enjoativa quanto a Ana Rita Clara na rubrica do Metro, quem já não lê a rubrica nesse malogrado dia vai perceber vai perceber, desculpem lá mas há temáticas que me emocionam).

E nas fases em que o dinheiro não nos assiste, isso não é desculpa para a inércia porque cada vez mais nos são apresentadas as mais diversas actividades, espectáculos, mostras de forma gratuita.

Deixo-vos com uma música, assim só porque sim, do espectáculo do Bruno Nogueira e da Manuela Azevedo que vi esta semana. "Deixem o pimba em paz!" que nos ensina a deixar os preconceitos em casa, porque existem alguns que são mesmo prescindíveis.







17.9.14

E se me fosse casar...

Não quero que seja o melhor dia da minha vida, não me importo se chover, se alguém não gostar não quero saber.

Quero-me casar porque acredito nas famílias, porque acredito na amizade, porque acredito que ser-se sozinho não é verosímil. Todos precisamos de um par, todos precisamos de ter alguém com quem não precisamos de filtros para existir, todos precisamos ter alguém que não se incomode com o nosso chulé.

Quero casar-me porque quero festejar a relação que me tem feito tão feliz nos últimos anos, quero casar porque quero ter filhos com a pessoas que no fundo me salvou a existência.

Já quis casar para me sentir uma princesa, mas agora já não me importo de ser a bruxa.

Não sei se vai ser para sempre, sei que não vai correr sempre bem, que é preciso trabalho comum, auto-controlo e mais do que tudo sensatez, sensatez sempre, todos os dias, todas as horas e compaixão, empatia, compreensão, amizade.

Que é mais do amor para além de uma amizade, um estar lá para as alegrias e para as tristezas, um estar lá e fazer parte a viver alegremente os desafios da existência.

Chorar, rir, brincar, perdoar, seguir em frente.

Vou-me casar porque quero juntar toda a gente e dizer, não, não existem príncipes encantados, mas existem pessoas que como numa melodia virtuosa andam no compasso ao mesmo ritmo que nós, que nos ajudam a ultrapassar os pedregulhos no caminho, que nos ensinam a gostar mais de nós e a apreciar melhor a vida.




Vou casar-me porque gosto de organizar festas.

Vou casar-me porque acredito que vamos continuar a gostar de construir coisas juntos, vamos continuar a querer descobrir juntos o mundo, vamos continuar juntos a questionar as coisas e a rirmos-nos de nós próprios.

Vou-me casar porque quero ter filhos. É claro que não era preciso, mas pronto eu quero, ponto final, ouviste! :)

Vou-me casar para irmos viver juntos mas por favor mete-me a merda da loiça toda dentro da pia! Arruma a roupa no mínimo de 2 em 2 dias! E nunca te esqueças, vai dar trabalho, às vezes hade doer, mas vai sempre valer a pena desde que tenhamos o cuidado de nunca nos deitarmos chateados porque tristezas não pagam dividas e estamos a dever um quota à felicidade.

E se eu me fosse casar?

Casamento_Diabo na Cruz (não sei pôr aqui os videos como deve ser!)
https://www.youtube.com/watch?v=johKbPPC4I8


16.9.14

Posts patrocinados vs blogs patrocinados, ou sobre como a ambição pode ser destrutiva

O mundo dos blogues tem o poder de nos surpreender, encantar, aumentar os pontos de esperança na humanidade, mas também horrorizar, fazer sentir vergonha alheia, nutrir vontade de colocar umas bombinhas posicionadas no centro de uns quantos teclados perniciosos.

Ganhar dinheiro com um blog, e existem vários meios de o conseguir, considero-o perfeitamente normal, positivo, uma evolução natural proveniente do sucesso de se ter uma página lida, falada, apreciada.

Porém passar-se de um blog genuíno, pessoal, a tender para a despretensão para um blog de embaixador de marcas, faz-me a maior parte das vezes deixar de o ler.

Quando se perde o carácter genuíno perde-se tudo, não há nada mais bonito de se ver do que a verdade nas pessoas. Só existe uma maneira de se chegar perto ainda que ao longe, da liberdade, viver sem máscaras.

Há pessoas e blogues seus primogénitos que não nasceram para a verdade e muito menos para a liberdade, dado que intencionalmente escolhem distanciar-se ainda mais dela, mas os que nasceram direitos e que tarde se entortam é pena.

Mas e um post patrocinado nunca fez mal a ninguém, dois ou 3 são a conta que deus fez, mas pior do que ter um blog carregado de posts patrocinados é tentar fingir que o não são, é ridículo, é uma afronta, é achar que as pessoas são tontinhas e partir desse principio pode sair-nos caro.

Já li posts patrocinados bem escritos, explícitos, em que a opinião das pessoas sobre as coisas parecia efectivamente verosímil e fazia sentido com o resto que já sabíamos sobre elas, esses quase que nem os tomo como publicidade embora naturalmente o sejam.



Gostar de marcas, gostar de produtos não tem mal, toda a gente vai tendo insígnias com as quais simpatiza mais ou menos e as razões são várias, mas vender um blog à publicidade é contra producente, em alguns casos o caminho para a destruição. Aliás vender a alma ao consumismo, diferente de consumir, nunca vai ser um bom negócio.

Toda a gente se compra, mas toda a gente pode decidir até que ponto é que se vai deixar comprar. E vendermos a verdade para fazer apanágio da mentira, quiçá por vezes vender até a dignidade é coisa que acho mal, mas é claro que também tenho um preço, Olá Ikea! Precisava ai de uns móveis para a sala sff!

Atenção que eu nunca disse que fazia sentido...

14.9.14

O medo, o horror, a tragédia e os pêlos

As pessoas quer se queira quer não tendem para a insensibilidade, por um lado porque é imprescindivel para a sanidade mental, por outro porque ser-se insensível é mais fácil,

Ser insensível é ver um rato ao pé de um caixote do lixo e já não gritar de terror porque se não fomos dolorosamente mordidos e transformados em zombies das últimas mil vezes que vimos um rato, o mais provável é que o não sejamos agora.
Ser insensível é já não termos os estômago encolhido pela indigestão causada pela ingestão de tanta injustiça explícita que existe à face da terra.

Uma coisa vista demasiadas vezes já não choca, passa tão desapercebida como um pôr do sol a colocar-se no céu, mas porque estamos a olhar para baixo para o nosso umbigo não o vemos, nem a ele nem aos que veríamos se pelo menos olhássemos mais para a frente.

A insensibilidade é precisa, é necessária à sobrevivência e a vida garante-nos a sua aquisição paulatinamente porém apesar de irmos ganhando capacidade de lidar com a angústia, devemos reagir na mesma ao que passa pelos nossos olhos, pois a mudança no mundo, lá vem um cliché esta-se mesmo a ver, está nos actos individuais, concretos, pontuais ao nosso alcance a cada momento para ir melhorando as coisas.

Uma coisa é não permitirmos que a vida nos doa demasiado, outra é fecharmos os olhos à vida.

Bem mas este post não é sobre isto, ainda a procissão vai no adro. Há uma coisa em relação à qual as pessoas ainda são muito sensíveis. Ficam chocadissímas! Ficam perplexas, sem palavras, ou a vociferar interjeições feias como se não houvesse amanhã.

Os pêlos nos sovacos, os pêlos nas pernocas, ou ainda os pêlos, sacrilégio, onde são mais precisos mas onde estão completamente fora de moda, e se não tá na moda, ai que horror, meu deus, que nojo!



O que fizeram com  os pelos é de um grau de desumanidade para com os ditos sem quaisquer precedentes, pois ensinaram as pessoas a ter nojo dos seus próprios pêlos!Grandes deuses da publicidade aqui não ganharam só batalhas ganharam a guerra, parabéns!

Ninguém tem nojo do seu cocó e congéneres, do seu mau hálito, das suas borbulhas, etc, porém dos pêlos?! Pelam-se!

Eu não tenho nojo dos meus pêlos. Sim eu sei, estou a pedi-las, depois um dia admiro-me.
Não os rapo como se não houvesse amanha, não me assusto quando os vejo ao espelho, não me causam repulsa.

Mas eu aposto que basta um dia chegar alguém, quem é que vai ser? e dizer que é cool, para se abrir ai uma nova oportunidade de negócio para animar a superfície da terra.

Nessa altura só para ser do contra e andar para ai a chocar o mundo sou capaz de fazer a vontade ao meu namorado.

Bem agora convido-vos a conhecerem isto http://pelospelos.com.br/ e a conhecerem o também o Alex http://alexcastro.com.br/, uma das pessoas mais interessantes que já conheci nestas prospecções virtuais, mas também de entre todas uma das pessoas mais iluminadas para além de interessantes a que tive por fruto da sorte, a sorte de encontrar.

Alertas:

Se têm nojo de pêlos, não gostam de pessoas de verdade, não gostam de ver pessoas nuas, mesmo nuas ou estão no trabalho não sigam o 1º link.

Se não gostam de pêlos, de pessoas nuas, mesmo nuas assim de repente e não gostam de pessoas que colocam tudo em causa e que podem mandar construções robustas ao chão ao testar os alicerces não sigam o 2º link.

Bem e a propósito se não gostam deste blog eu juro que compreendo, controlem a curiosidade morbida e aquela vontade de nutrir um bocadinho de escárnio, eu própria tenho de fazer esse exercício de auto-controlo, e nunca mais na vossa vida venham cá, não é por mim é por vocês.

Se gostam deste blog, fico contente, eu gosto de certeza muito de vocês, obrigada e lá para não sei quando há mais.





9.9.14

As pessoas são feitas de carne e osso, olheiras e rugas, mau hálito e suor, lágrimas, sangue, todas, sem excepção


As pessoas querem-se genuínas, com valores, sensatas, empáticas e altruístas, focadas, baseados no mais elevado dos princípios, o respeito. Antes de mais por si próprias, depois por tudo o resto, pelo o pássaro lá fora, pela pessoa que recolhe o lixo, pela árvore que nos permite respirar, enfim clichés á parte, as pessoas querem-se como nos discursos das Miss Mundo, muito pacificas, com muito amor e claro sem fome.

As pessoas não se querem perfeitas, irrepreensíveis, irrepreensivelmente depiladas, com peles lisas e unhas que dão gosto, cabelos sedosos, bochechas coradas, rabos salientes, barrigas inexistentes. Não é nisso que reside o valor efectivo de uma pessoa.

Não quer isto dizer que não faça sentido colocar uma máscara no cabelo, ir à manicura arranjar as unhas, ir ao ginásio e por acréscimo favorecer as formas do corpo, são coisas corriqueiras.

A questão que é pertinente prende-se com as motivações dos actos e com a ingenuidade das acções.

Há mil e uma razões para se ir ao ginásio, as que se prendem com impressionar são ingénuas
Há mil e uma razões para se ter as unhas arranjadas, achar que nas unhas reside valor acrescentado, uma mentira com que nos pintamos todas a manhãs.
Há  mil e uma razões para achar alguém inspirador, digno de mérito, com valor, idolatrável, a beleza não é uma delas.

O talento não é filho da beleza, não depende de quão bonito se é, não depende de olhos pestanudos e cabelos brilhantes.

Naturalmente que considerações sobre como seriamos tão mais o que quer que seja, quiçá plenamente e para sempre felizes, se tivéssemos x e ficássemos y, são fruto principalmente do sistema económico em que estamos inadvertida e indelineávelmente presos, onde não passamos de moscas envolvidas na teia desde o momento em que sentimos a dor de nascer.

Mas as mulheres, por muito que lhes tentem dizer que podem ser mais que isso, são apenas mulheres e sempre o serão e não deusas, abaixo se pode ver que a realidade mata os mitos, sempre, inequivocamente. Elas são apenas mulheres e são bonitas, mas não imaculadas quais virgens em altares dourados.

Que nos preocupemos com o estado nos nossos calcanhares, que de tanto andarmos ficam calejados não é anormal, mas tal como as mulheres são mulheres e não deusas, ao pé do que realmente importa na vida, o estado os calos nos nossos pés são uma coisa irrelevante.

Mas e o que é assim tão relevante? A paz de espírito.










7.9.14

O jornalismo de entretenimento ou os malabaristas de notícias

Admiro a arte, estimo a capacidade de construir com palavras, de expor, de questionar, de testemunhar, de informar. Admiro pessoas capazes de encontrar de entre todas as melhores palavras para expressar com exactidão os factos, mas também as opiniões pessoais, as ideias.

Na minha infância sempre vi religiosamente as notícias durante todos os jantares, durante muito tempo como é natural não compreendia muito do que era dito, mas ia-me esforçando. Com o passar do tempo as coisas foram-se clarificando a pouco e pouco, só algumas claro, muitas ainda permanecem ignoradas ou incompreendidas.

Lembro-me de achar os blocos noticiosos uma coisa séria, fidedigna, lembro-me de achar que no geral aquelas pessoas cumpriam a preceito os ditames éticos da sua profissão.

Já não acho, os conteúdos em geral dos canais generalistas em Portugal têm vindo a degradar-se com o tempo, progressivamente, a pouco e pouco até aos dias de hoje e os blocos noticiosos não são excepção, e em vez de construírem, destroem.

São muitos os profissionais de televisão nas mais diversas áreas que respeitava, que achava capazes, talentosos, confiáveis e que já não considero que o sejam.

A televisão generalista, com excepção da rtp onde ainda sou capaz de ver valor em vários programas, para mim morreu, e morreu sem que sinta saudades, evito até por lá passar, porque um minuto que seja por esses becos sem saída já se reverte em dinheiro a favor de instituições onde já não vejo a vontade de ser uma boa influência que houvera noutros tempos.

Mas este artigo é sobre telejornais, que se me ponho a falar do resto o escarnio é tão grande que ia correr mal e ficava apoderada por uma cólera que me faz doer o estomâgo e ainda nem 10h de domingo são.

Para mim informar é diferente de expor e de explorar, expor a vulnerabilidade, explorar o sofrimento, mostrar o que pode ferir susceptibilidades, sendo que existir gente não susceptível a certas coisas é mau o suficiente.



Entrevistar em directo uma pessoa que está a ver a sua casa a arder não é consciencializar sobre a gravidade dos fogos florestais é tempo de antena que explora a morbidez curiosa que todos os seres humanos encerram em si e que os prende à televisão fazendo-os deixar uma garfada a meio para logo depois a meterem ao bucho enquanto se concentrarem nas questões da bola, redundantes, especulativas, que têm tanto de paixão cega como de ódio em estado puro.

Para mim informar significa que pelo menos se procurou chegar aos factos e não se baseou uma notícia só com um ou até vários pontos de vista de uma pessoa ou grupo que viu lá do fundo ao pé do café do Manel.

Ir a uma manifestação sobre a legalização do cannabis e resumir a peça jornalística destinada ao bloco noticioso à entrevista de toxicodependentes não revela imparcialidade no tratamento das questões.

Para mim informar deve ter como objectivo chegar a todos e não só à suposta maioria, pelo que um "Até amanha, se deus quiser" embora também seja uma expressão corriqueira é uma afronta, que me faz pensar se estou num tal de país com a tal de liberdade entre outras coisinhas, de credos.

Para mim informar num telejornal deve resumir-se a assuntos relevantes e se há dias em que o telejornal se estende, deviam existir dias em que se encurta porque encher chouriços é trabalho de charcutaria e não de jornalistas.



Para mim numa entrevista num bloco noticioso deve-se no mínimo fazer o maior esforço humanamente tangível para deixar de fora os juízos de valor que todos carregamos por dentro.

Para tecer estes comentários estou a basear-me em constatações que fiz no fundo à cerca de dois anos, isto porque hoje é raríssimo ver um telejornal, hoje vou escolhendo a informação a que quero ter acesso, o que não me tornou mais feliz, porque mesmo que os meus olhos não vejam eu sei que o mundo existe e roda aos solavancos para além deles, mas consegui tornar-me menos ansiosa, o que é muito bom para a saúde.

Porque é que deixei de ver? A política nua e crua em Portugal e não só naturalmente é uma circo de fantoches massacrante, enoja, revolta, envergonha, o sofrimentos em todas as suas vertentes é mostrado, discutido, exibido, comentado, não o quero ver, angustia-me. A perda de valores de uma classe profissional é demasiado flagrante, é claro que há excepções, mas já não compensam o resto do saco de farinha.

Enfim visto que, cristo,  jesus, não tenho tv cabo, na casa onde vivo à muitos anos, porém inadvertidamente apanho alguns canais poucos, há dois anos que vejo religiosamente a telenovela da globo sempre que estou a jantar, deitei fora os preconceitos, não todos, que os preconceitos são como coletes à prova de bala, e gosto muito.





2.9.14

Sobre POUPAR e sobre o porquê de poupar

Quando se quer mesmo mudar alguma coisa, tem de se querer muito, tem de se querer de verdade.

A realidade também e falo por experiência é que raramente queremos coisas de verdade, do fundo do âmago, a partir do lugar recôndito onde mora a motivação efectiva.

Se bem que às vezes queremos coisas de verdade mas queremos várias ao mesmo tempo e não temos força para lidar com todas.

Às vezes queremos coisas de verdade mas não estão ao alcance dos nossos esforços e demora até que o reconheçamos, mas não o reconhecer pode levar ao sucesso.

Poupar é um dos hábitos que se podem adoptar se o quisermos, temos de querer de verdade é certo e implica esforço, mas vale a pena porque aprender a poupar mais do que tudo permite que deixemos no fundo de ser escravos do consumo, essa maleita que moí e mata.

A questão da poupança não representa apenas o acumular de verbas para gastar mais tarde, em coisas mais dispendiosas, em eventualidades, em presentes ou experiências enriquecedoras, embora efectivamente o possibilite.

Representa auto-controlo e resiliência, paciência, definição de prioridades, escolhas ponderadas, capacidade de gerir, ajuda a alicerçar a capacidade de lidar com situações em que o dinheiro esse vil instrumento de controlo escasseie.

Dai a importância de usar o dinheiro como um veiculo de praticar o auto-domínio e de tentar que o livre arbítrio seja uma realidade apesar de todo apelo à compra a que somos diariamente sujeitos. A questão é: devemos lutar para possuir o dinheiro em vez de ser ele a possuir-nos a nós como um espírito maligno que nos come o cérebro.

Para mim só existe uma maneira de poupar que funciona, fingir que se ganha menos do que se recebe num mês, o que significa tirar dinheiro e colocar de parte assim que o dinheiro cai na conta.

Métodos como poupar o que sobrar geralmente não resultam. Vivermos acima das possibilidades que o nosso ordenado possibilita também não permite poupança, porque nunca vamos ter dinheiro suficiente e há que cortar no que é supérfluo, sendo que o mesmo é muito pessoal.  É claro que para quem recebe o ordenado mínimo o surpérfluo a maior parte das vezes não existe, mas por muito pouco que se consiga colocar de lado ao fim dos meses com a poupança torna-se possível quebrar de alguma forma a rotina o que é essencial.

Porém apesar de poupar ser essencial para uma relação equilibrada com o dinheiro, e de dentro da poupança ser ideal termos sempre um valor a partir do qual não mexemos e que se destina a crises, o dinheiro deve ser usado, poupar para o primeiro milhão numa vida de abnegação, restrições, plena frugalidade é contra producente para a saúde mental.


De resto antes de definir o montante a colocar de lado no início de cada mês e que deve idealmente ser o mesmo para que nem tenhamos de pensar muito sobre o assunto, excepto em meses em que os gastos previstos sejam acima do normal, regresso às aulas, Natal, etc, é bom determinar-se um montante de extras para além dos gastos fixos, que tenham a lógica de uma semanada, e que se destina ao usufruto da vida, a comer fora, a ir ver uma peça de teatro, ir ao cinema, cafés e pequenos almoços fora, tabaco, qualquer coisa de que se precise mesmo.

Fazer as coisas com peso e medida gera equilíbrio e o equilíbrio gera paz interior, esse diamante bruto, mais realista do que a busca incessante pela plena mas utópica felicidade.

Bem agora vou-me obrigar a fazer exercício que no fundo era o que devia estar a fazer à mais tempo em vez de estar para aqui com coisas :)