25.1.15

Remar, remar...forçar a corrente...


Remar remar


Xutos
Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Redundam em silêncio
(2x)
Nada me diz
Berras às bestas
Que te sufocam
Em abraços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor
Remar remar
Forçar a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente
(2x)
Nada me diz

22.1.15

Jesus, Moisés e Maomé


Quem comigo priva sabe que a minha religião hoje é o cepticismo, mas as minhas raízes e a minha pátria são católicas, será que são? e o catolicismo está por todo o lado. Mas convenhamos que pouco dele seja praticado com outro fim que vá além do benefício próprio. Dai surge uma questão, será que está mesmo por todo o lado?

Estou numa aflição, tenho o direito de reivindicar por salvação. Pois. Issó não é ser católico.

Muitos, a maioria? agarram-se à religião por medo, mas a religião não é sobre a nossa fragilidade, embora também a aborde, de resto o que é relevante é que entre o medo e a morte há a vida para se viver, e entre o medo e a morte só pode bater com punho fechado no peito quem viver segundo os princípios da fé que diz professar, porém curiosamente, esses serão sempre justamente os que não batem.

Para mim o bom católico ou por outras palavras, simplesmente a boa pessoa, não é o que vai á igreja, casa na basílica, baptiza com pressa. Para mim o católico é o que pratica a bondade. Claro que para a santa sé o católico é o que faz isso tudo, o que cumpre as burocracias e o que pratica os princípios, nada contra, só pode ser sócio quem paga as cotas, só é católico quem segue os preceitos.

Se não podemos dizer que somos futebolistas que não praticam futebol, também não podemos dizer que somos católicos não praticantes, e não me venham com argumentos porque quem me ensinou isto foi a minha catequista e ela sabia do que falava, alguma coisa forneço o contacto. Mais uma vez voltem-me a perdoar a franqueza mas a nossa crença individual feita à medida do que nos der jeito, não consuma a igreja católica. Ter medo não é ser católico.

E sim apesar do mundo, a vida, a sobrevivência, serem matérias complexas a bondade é sempre uma escolha, não prejudicar ninguém é sempre uma opção, o respeito é sempre uma possibilidade, isto, esta postura, junto com ir à igreja é ser católico, isto, esta maneira de viver, sem ir à igreja e sem ter grandes crenças é ser-se um ser humano a sério, consumado em humanidade.

Se fossemos tantos verdadeiros católicos, muçulmanos, judeus, como se diz por ai que somos, vivíamos no paraíso, e ao que parece isto está mais a tender para o insuportávelmente quente, porque para lá de Paris, citando um exemplo e porque está na ordem do dia, há mais mundo, e o mundo tem tanto de bonito como de feio, e se o feio é preciso para valorizarmos o bonito, uma coisa é certa não precisamos de ser nós a cria-lo, a natureza é grande e hade sempre garantir-nos isso.

Aqui portanto desde já se clarifica que não, não andam por cá nesta terra ao pé do mar plantada 9 milhões de católicos. Temos por cá tanta gente corrupta, mal intencionada, que maltrata, que manipula, que se aproveita, que prejudica, que é gananciosa, que humilha, que ostraciza, que destroi, e toda esta gente só é católica volto a frisar nomeadamente para o santo papa se cumprir tanto as burocracias como os princípios, sabem quais são não é? (atenção, estas provocações não se destinam aos meus leitores, só expressam a minha raiva) Não chega ir á missa bem vestido ao domingo e a seguir dar gorjeta na marisqueira.

Enfim se sou céptica em relação ao divino, ao metafisico, ao inatingível, às entidades que tudo podem, que tudo controlam que tudo sabem isso é irrelevante e é problema meu, mas na verdade o que interessa é que não o sou no que diz respeito aos dogmas das religiões bem intencionadas, a justiça, o respeito, o amor, esse que traduzido por miúdos não passa de empatia e bondade, compreensão e aceitação.

De resto o que interessa neste artigo muito mais do que tudo o que disse é a imagem que está lá em cima.


20.1.15

É possível ser carneiro e comer raposas?!

Pode haver quem pense ao ler este blog que sou uma pessoa de mal com a vida. Não sou. Sou só uma pessoa de mal com metade do mundo, dois terços, nove décimos? Não sei, o mundo é tão grande e eu faço-me tão pequena...

Não quer isto dizer que não sei apreciar o que é bom, bonito e barato, que não sei valorizar o que vale a pena, que não sei achar graça a isto tudo. Para que se saiba acho imensa graça a isto tudo. Mas tenho predisposição para a irritação, para o escárnio e para o maldizer.

Há muita coisa que me chateia, há muita coisa que se eu mandasse...ainda bem que não mando, porque de tanto querer fazer avançar faria regredir, não existiria.

Na meu regime ditatorial havia muita coisa que deixava de existir e havia uma coisa que era o mandamento máximo, o respeito, esse cliché, esse conceito batido, essa coisa que mudaria a nossa vida irremediávelmente se um dia fosse realidade...sou realista, nunca vai acontecer, era preciso isto explodir e nascermos de novo...não vai acontecer pois não?

Nem sempre a esperança me assiste, também porque por mais que queiramos ser a mudança que desejamos ver no mundo, há luz e água para pagar...e pela luz e pela água penamos, resignamos-nos, dizemos que sim, quando o que queríamos era mandar ir comprar carne ao talho. Pela luz, pela água, pela casa para morar, pela comida para não morrer vamos dizendo que sim a tudo...

E pelo caminho deixamos para trás princípios, valores, a dignidade e quando vamos a ver o que sobra é o carneiro que aceita, que paga, que consome, que se mostra, que se vende, que se cala.

O que sobra também é a raposa que se tiver de saltar a cerca salta, que se tiver de esfolar esfola, que se tiver de matar, mata.

Não quero ser raposa mas muito menos carneiro...

Há uns anos a pergunta que imperava era sobre o que queríamos ser, respondíamos ingenuamente uma profissão qualquer, há um anos atrás a vida era simples, agora a pergunta que se apraz é outra:

Vais ser dos que desistem ou dos que insistem em lutar? Se calhar é altura de decidir, será que há testes psicotécnicos para isto?

PS só para a minha mãe!: Mãe tá tudo bem! :)

12.1.15

Beleza a custo zero


Ainda tenho os meus fantasmas, alguns já muito raramente me assombram, outros estão constantemente a travessar paredes.

Ainda sinto várias pressões para ser, para fazer, para mostrar, ainda lido com o meu apelo interno ao consumo de coisas de que não preciso, mas que vão servindo como distracção quando falta conteúdo efectivamente prazeiroso na vida. A vida cosmopolita, onde tudo é tráfego e transito, que nos cansa e que nos apresenta sempre como solução coisas para comprar, como sendo esse o caminho mais fácil e directo para a satisfação. É mentira e todos o vamos sabendo e esquecendo, sabendo e ignorando.

O dinheiro traz felicidade na medida em que cumpra a nossa necessidade de segurança, depois está dependente das nossas restantes necessidades, que para existirem dependem da motivação que tenhamos para viver.

Mas este post não é sobre isto é sobre dicas de beleza a custo 0, vamos lá então:

- escolher muito bem os conteúdos que se vêm na televisão, muitos deles têm como efeito colateral causar falta de confiança, maleita que gasta muito dinheiro

- perceber que respeitar o corpo é aceitar que o desgaste faz parte, envelhecer é bom sinal. Por acréscimo fazer escárnio de toda a publicidade que mina a confiança das mulheres face ao passar dos anos.

- o amaciador de cabelo é um produto sobrevalorizado, sempre usei, achava que não me conseguia pentear sem ele, não uso desde há uns 4 meses, não me caiu a cabeça.

- beber água substitui o creme das pernas, o dos braços, o do corpo todo, aquele dos calcanhares também, assim como o dos lóbulos das orelhas.

- tal como os homens não se medem aos palmos, as mulheres não se medem a mamas, a rabos, a pernas, a barrigas, toda a gente se mede somente pela humanidade que tem dentro

- assimilar de uma vez por todas que a beleza é indiscutivelmente agradável e uma qualidade para a qual tendemos, mas é sempre oca.

Bem não tenho mais, ou até tenho mas não me apetece dar, até porque acho que não seriam muito bem recebidas. Há coisas que de tão repetidas se tornaram dogmas e contra dogmas não há argumentos.

Mas aproveito para contar uma história: ontem estava a ver um programa de televisão daqueles de descobrir talentos que nunca serão aproveitados para nada. Os mesmos canais que os promovem são os que ocupam a sua grelha com mediocridade atrás de mediocridade. O mesmo país que os acolhe é aquele que não os dignifica.

Embora goste de ver pontualmente esse tipo de programas pelo facto de mostram que há muito potencial e pessoas extraordinárias, e isso é uma lufada de ar fresco que traz em si esperança, entristece-me o facto de promoverem por acréscimo muitas vezes a esperança vã, mas continuando.

Uma rapariga muito bonita de ar simpático fez a sua apresentação, os jurados acharam que ela embora tivesse potencial ainda não tinha alcançado o nível exigido pelo programa para passar à fase seguinte. Mandaram-na embora. Porém continuaram a debater e decidiram chama-la de volta com base em ser bonita, e a conversa não passou disso: "-ah mas é tão bonita...", "-pois é, pois é...", "-vamos dar-lhe uma oportunidade!"

E foi assim...a meritocracia pode ser relegada pela beleza, mas não me vou alongar, as conclusões que se podem tirar, todos de uma maneira ou outra as vamos tirando na vida.

A arbitrariedade comanda a vida, mas não poderia nem deveria ser de outra maneira.

11.1.15

Spoiller Profissional: Gone girl

Um filme que entretém e surpreende por duas vezes, sendo que a 1ª revelação que o faz, fá-lo pelos seus contornos doentios, e resolve a meio da trama a questão nuclear do filme, o que aconteceu a Amy Dunne.
A segunda surpresa e que constitui o fim da película, por ser tão verosímil, angustia, dado que evidência que a resignação e a submissão vencem muitas vezes e por vezes são a única hipótese efectiva de sobrevivência, nomeadamente entendamos com sobreviver a manutenção da liberdade, por via de não se ser preso. ou da vida, literalmente, por via de não se ser morto.

Porém os filmes não são vida e depois do fim há sempre mais, por tal dificilmente dada a situação que constitui a realidade da personagem mais assombrada, a resignação não duraria para sempre. Todos os filmes podem ter uma sequela, ainda bem que não têm.

O filme aborda uma realidade transversal  que quase todos conhecemos e que se prende com o desgaste que vai acontecendo nas relações  por umas razões ou por outras, como por exemplo a paixão passar e a realidade da vivência diária com alguém ser baseada em todo o tipo de circunstâncias complexas, desafiantes, problemáticas, desalicersantes.

O esplendor da beleza e a eloquência nas palavras perdem a sua força com a passagem do tempo, ao mesmo tempo que a lucidez aumenta o enamoramento vai esmorecendo. A passagem da paixão para o amor envolve respeito e quando esse respeito e o querer bem não são inabaláveis é fácil uma relação desfragmentar-se, perder sentido, dar azo a novas buscas pela satisfação, assim como a auto-destruições ou à destruição do outro.

Porém o que no meu entender é mais relevante no filme é a critica social que encerra, nomeadamente por dar visibilidade às distorções malignas que vendem blocos noticiosos a sociedades sedentas de distracções, de emoções, de sangue que naturalmente os compram de bom grado

Sociedades que têm gáudio em tirar conclusões precipitas, que especulam, que estão sedentas por sordidez, que maldizem os que apedrejam mas que atiram ovos duros como pedras.
Sociedades que compram a vida dos outros, a mentira, o julgamento em praça pública e que não pensam que um dia lhes pode bater á porta a devassidão dos outros sobre o que não lhes diz respeito e a sua sede de pormenores escabrosos.

Sociedades de pessoas que não têm o discernimento de pensar que estão a comer de uma mão que um dia as pode levar à boca.

Ainda bem que vivemos do lado do mundo em que a liberdade de expressão é uma possibilidade, porém a liberdade de expressão tem dois lados apenas, o que faz do mundo um lugar onde pode haver esperança e o que torna o mundo repugnante.

Outro lado que é explorado por acréscimo foca a resignação que por vezes tem de prevalecer por parte das únicas pessoas que poderiam resolver uma situação grave a bem, falo da polícia, que em mais situações do que seria recomendável se têm de subjugar a falhas nas leis e nos procedimentos, que impedem que a verdade seja encontrada e a justiça reposta.



Enfim vale a pena ver.