29.10.14

Sobre como os amigos também fazem coisas más

Os amigos gostam uns dos outros, nem sempre estão de acordo, às vezes irritam-se, às vezes falam demais, às vezes fazem coisas inesperadas e que nos magoam.
Não faço grande apanágio do uso de paninhos quentes, às vezes é uma qualidade, outra vezes é um grande defeito.

Hoje fiquei a pensar em 3 coisas que até doeram um bocado, a primeira foi acerca da premissa que diz que o que mais nos irrita nos outros são coisas que temos em nós mesmos, outra foi sobre uma frase que li esta semana que falava de no verdadeiro amor e amizade não existir ego e ainda sobre apesar do ataque ser a melhor forma de defesa não ser a melhor forma de fazer as pazes.

Sou das pessoas menos orgulhosas que conheço, a maior parte das vezes isso é bom porque permite seguir em frente sem andar a arranjar rugas e cabelos brancos antes do tempo, noutras vezes isso chateia-me muito porque afinal eu às vezes tenho razão e me devem um pedido de desculpas, mas sou eu que me chego de mansinho e digo, "Pronto está tudo bem, vamos esquecer isto"

Eu também mago-o os outros e não gosto de o fazer, mas às vezes faço-o e peço desculpa para conseguir assentar a cabeça na almofada.

De resto devia controlar-me mais, ainda emito mais juízos de valor do que os necessários.

Enfim, aconteceu uma coisa que me deixou perplexa, as pessoas são complicadas, eu própria muitas vezes sou um lobo em pele de carneiro e por dentro tenho pensamentos que preferia deixar de ter...é um trabalho a ser feito, o mero facto de haver consciência indica que pode haver esperança na resolução.

Enfim desabafos à parte, o halloween vai ser fixe na mesma, não vai ser igual, mas estas coisas fazem parte.

24.10.14

Gatos pretos e a estupidez das superstições

Este texto pode ferir a susceptibilidade dos supersticiosos, mas vamos lá ver uma coisa, as superstições estão associadas a histórias, mitos, lendas, preconceitos, modas, associações sem sentido, irracionalidade, mas não em factos, isto é um facto e contra factos não há argumentos ok?

Eu sou uma jovem de 25 anos tenho um gato preto, no outro dia parti o espelho da casa de banho, já passei debaixo de várias escadas mas com jeitinho para elas não me cairem em cima. Ponho a mala no chão desde que tenho mala, não uso cuecas azuis na passagem de ano a menos que calhe e tenho o buda virado para a porta, já abri o chapéu dentro de casa.

Tenho uma vida normal, não dou um trambolhão de cada vez que vejo o gato, o espelho foi uma chatice que tive de comprar outro mas tive sorte que não me cortei, as malas às vezes ficam um bocado encardidas, até agora passei sempre de ano com ou sem cuecas, aquilo do Buda é mentira não tenho nenhum.

O meu gato demorou anos a ser adoptado, era um dos gatos mais meigos, atenciosos, cativantes, mas era preto. Primeiro foram os branquinhos, os bejes, os às pintinhas, os amarelinhos, os cinza claros e o preto lá ficava em cima da manta ao pé da janela, uns dias triste, uns dias cansado de esperar, porquê? porque a beleza está nos olhos de quem vê, e os olhos de quem vê são muitas vezes frios, superficiais, básicos.

Nunca achei um gato ou um cão feios, acho-o quase um sacrilégio tão grande quanto achar um bebé feio e muito pior que isso dize-lo em alto e bom som.

Os homens não se medem aos palmos e as pessoas são de coração por dentro embora de facto nem todas mereçam a nossa compaixão provavelmente, mas num bebé ou num cão não existe mácula por isso lavai a boca com lexivia de cada vez que pensardes em dizer que um bebé é feio, porque bebés feios só existem em almas sujas.

Eh pá que ela hoje está agressiva! TPM...o tpm é fodido...



21.10.14

OUTLUX: Out of Clichés, Out of Worries, Out of Money Casamentos

Mais uma vez o tema é casamento, bem sei que começa a ser suspeito...e desta vez venho falar de uma empresa com a qual estabeleci uma relação de amor à primeira vista e venho falar dela porque acho importante abordar a "instituição casamento". Este post não é patrocinado mas bem que até podia ser ;)

Fogo de artifício indoor ;)


Conheci a Outlux à sensivelmente um ano, já não seibem onde na medida em que o projecto foi comunicado em diversos meios e imediatamente pensei que era a "tal", porque de facto o conceito fazia todo o sentido para mim.

Esse conceito remete-nos para o "fora dos clichés", que encerram uma data de coisas que não fazem sentido nos dias de hoje e que se calhar nunca fizeram não sei e para as quais existem alternativas.

"Fora de preocupações", na medida em que a empresa apresenta pacotes "chave na mão" que permitem aos noivos evitarem sujeitar-se a vários tipos de preocupações, a stresses desnecessários, permite-lhes sim fazerem escolhas sem terem de ponderar questões logísticas e gerirem a acção de várias pessoas associadas aos diferentes serviços, isto sem gastarem mundos e fundos que muitas vezes implicam o acumular de dívidas comum a várias partes.

Dado isto o que esta empresa apresenta é a possibilidade de se festejar o amor, o companheirismo, uma história mutua sem ter de se despender muito dinheiro, assim sendo permite o cumprimento do sonho de formas a tender em alguns aspectos para o alternativo.

Este projecto nasce num contexto de crise financeira entre outras mais graves até, visto que quando faltam valores o dinheiro não compensa, não salva nem redime, mas também poderia nascer sem que os problemas de dinheiro fossem tão flagrantes.

Isto porque basear os casamentos no exagero, no desperdício de dinheiro e de comida até, baseá-lo em agradar aos outros em detrimento de seguir os efectivos gostos e vontades, baseá-lo nomeadamente na pompa da circunstância de se entrar numa igreja vestida de branco, igreja imponente, vestida a ouro, vestida a hipocrisia, com um vestido branco feito de valores pessoais ocos é alicerçar o casamento com uma estrutura feita de vidro.

Atenção não tenho nada contra casamentos católicos quando são feitos com base na verdade, na efectiva crença de que a fidelidade e a união se querem para sempre, sendo que a crença de que isso é possível nasce porque o casal quer que o seja, porque quer assumir um compromisso para a vida, para o bem e para o mal para a saúde e para a doença.

Por outro lado tenho muita coisa contra quem jure o que nunca pensou se queria ou não cumprir ou pior odeio quem o faz sabendo que nunca o irá cumprir. Odiar é uma coisa muito forte eu sei, mas não perco muito tempo neste em particular até porque tenho mais.

Levo muito a sério aquilo que juro e aproveito para contar uma história, mas bem  pensando melhor vou conta-la no próximo post porque acho que merece uma abordagem mais cuidada.

Entretanto fica o site da Outlux, que de facto trabalha noutros moldes o negócio casamento e venho publicita-la porque me identifico, porque acredito nela, porque acredito que evoluir é possível.

http://outlux-lowcost.pt/




17.10.14

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Spoiler profissional: District 9

Bem é de 2009, só calhou vê-lo agora.



É um filme de ficção científica sobre alienes que tiveram o azar de vir parar à terra numa nave enorme que calhou em avariar curiosamente no céu da África do Sul. Não tinham más intenções, aliás não tinham nem primeiras nem terceiras, foi um acidente por tal não vinham nem por mal nem por bem, apenas queriam regressar ao seu planeta, sendo que essa possibilidade só se evidenciou possível passados 20 anos de estarem num regime de segregação no nosso planeta e num país com um passado negro no que à xenofobia diz respeito.

O filme retrata um episódio da vida daqueles a quem os humanos chamaram pejorativamente de "camarões" pela sua suposta parecença com os ditos que nasce da necessidade de comparação com alguma coisa que existe por parte das pessoas e que ajuda a ditar a superioridade dos humanos face a esses seres.
Esse episódio consuma-se na expulsão dos mesmos do local onde viviam, numa abordagem cinematográfica que simula um documentário, recorrendo à filmagem dos acontecimentos, à recolha de depoimentos, ao discurso na primeira pessoa por parte do protagonista humano, o responsável pela transferência dos extra-terrestres do district 9 para o district 10, um sitio parecido com um campo de concentração onde se sugere que a liberdade dos seres extra-terrestres seria ainda mais condicionada e desumana.

O filme ficciona uma das possíveis formas sobre como trataríamos seres de outro planeta, ainda que estes fossem essencialmente benignos, provavelmente a mais provável.



Essa forma passaria por segregar, desrespeitar, sujeitar à pobreza, humilhar, violentar, não lhes associar direitos. Por outro lado seriam estudados, sujeitos a todo o tipo de experiências, procurar-se-ia ganhar o máximo possível com eles, roubar a tecnologia principalmente a mais lucrativa, a bélica.

As pessoas na sua generalidade procurariam expulsar-los do seu país, não procurariam meios de integração, não estariam interessadas em aceita-los, em percebe-los, quiçá em ajuda-los.

Uma minoria, a que se agrega pela luta pela igualdade, respeito, humanidade, insurgisse-ia contra os maus tratos, mas infelizmente o seu poder é sempre limitado.

Metade do filme é angustiante, deixa-nos meio estarrecidos, o protagonista é odioso, toda a gente é odiosa, a máfia de humanos que levanta arraiais no district 9 é digna de pura repulsa, não existe um pingo de bons sentimentos até que o feitiço se vira contra o feiticeiro.

Embora me auto intitule de spoiler profissional não me vou alongar sobre a trama.

Vale a pena ver, ao longe os alienes parecem nojentos, mas ao perto os preconceitos caem por terra. Mas não é assim que funciona? os preconceitos muitas vezes são filhos da prudência, a discriminação é que já não tem um pai tão sensato.



District 9 (2009)

  -  Action | Sci-Fi | Thriller  -  14 August 2009 (USA)
8.0
Your rating: 
  -/10 
Ratings: 8.0/10 from 442,346 users   Metascore: 81/100 
Reviews: 1,239 user | 452 critic | 36 from Metacritic.com
An extraterrestrial race forced to live in slum-like conditions on Earth suddenly finds a kindred spirit in a government agent who is exposed to their biotechnology.

Director:

 

13.10.14

Spoiler profissional: Edge of Tomorrow

Gostei e recomendo a todos os aficcionados da ficção científica, logo se ainda não viram, ganham mais, naturalmente, em não ler o que se segue, porque embora não vá fazer nenhuma revelações bombástica é meu hábito falar de mais ás vezes ;)

O filme explora de um ponto de vista prático e num contexto em que se lida com a destruição da humanidade por extra-terrestres, horrorosos diga-se de passagem, como seria o processo de alguém voltar a um dia específico, sempre o mesmo, de cada vez que morria, o que dado o enredo do filme era possível suceder a cada 5 minutos pelas mais diversas razões, principalmente quando se chega ao campo de batalha, dia imediatamente posterior aquele a que se regressa de cada vez que se morre.

Assim sendo o que acontece é que o protagonista, o malogrado Tom Cruise, que ao que parece já não está na sua época aurea, encontra-se preso num loop de tempo com hipóteses de saída bastante reduzidas, ou seja com ínfimas chances de não morrer sempre no dia a seguir ao que está sempre a regressar.

A personagem só mais para o final da película é trabalhada de forma a dar a entender a angústia de estar preso no tempo no fundo pela capacidade aparentemente infinita de ressuscitar. Durante todo o filme o que prevalece é o desejo de vencer o desafio, o de lidar com todas as variantes para fugir à morte e salvar o mundo por acréscimo, sendo que cada novo dia representa uma nova oportunidade e 1001 maneiras de morrer que à medida que vão sendo conhecidas sucessivamente , vão podendo ser paulatinamente evitadas.



Gostei da cadencia que foi dada ao filme, torna-se divertido por vezes, não é particulamente previsível, quer a caracterização dos militares que defrontas os extra-terrestres, quer os próprios são bastante imponentes e causam impacto. as cenas de acção para uma pessoa que não vai muito à bola com sucessões de cenas de porrada dos filmes da especialidade, não são nada maçadoras.

Gostaria eventualmente de um pouco mais de emoção e concordo com o que li numa outra critica sobre como teria sido interessante dar um pouco mais de profundidade ao protagonista, mais contexto sobre a sua vida, experiência, etc.

Enfim já foi para a lista dos favoritos, como quem diz, vale a pena voltar a ver quando já me tiver esquecido, quiçá para a semana


Edge of Tomorrow (2014)

  -  Action | Sci-Fi  -  6 June 2014 (USA)
8.0
Your rating:
  -/10 
Ratings: 8.0/10 from 174,327 users   Metascore: 71/100 
Reviews: 526 user | 482 critic | 43 from Metacritic.com
An officer finds himself caught in a time loop in a war with the alien race. His skills increase as he faces the same brutal combat scenarios, and his union with a Special Forces warrior gets him closer to defeating the enemy.

Director:

 

Writers:

  (screenplay),  (screenplay), 2 more credits »

12.10.14

Nova rubrica: "VIVO BEM SEM" _1

Inspirada neste blog http://anagoslowly.blogspot.pt/ decidi começar esta rubrica aqui neste meu blog, seguem-se então 3 coisas com as quais vivo sem, pelas mais diversas razões.
Atenção que o fim disto não é à partida reprovar nada, mas apenas evidenciar o facto de que as necessidades variam de pessoa para pessoa e coisa para nós imprescindíveis podem ser irrelevantes para outros.


SEM DINHEIRO NO TELEMÓVEL

Pois é sou uma espécie provavelmente rara e esquisita entre outras coisas talvez piores, mas atenção não é por não ter dinheiro no telemóvel que não comunico! Comunico é de uma maneira diferente, digamos que no fundo à conta de todas as pessoas normais do mundo, no bom sentido isto é, que através de planos abrangentes, ou tarifários vantajosos ligam para todas as redes ou têm um número predilecto.

Bem e como é que faço? ao meu namorado dou um toque a partir do serviço de chamadas a pagar no destinatário. Falo com os meus amigos pelo facebook. Espero que a minha mãe me ligue, ou ligo do telefone fixo. Falo com o meu namorado pela net e à noite também pelo fixo.

Raramente preciso mesmo mesmo de ligar a alguém e quando preciso mesmo lá contrariada carrego.
Chamem-me maluca, e sou, mas vou poupando uns trocos, para quê, para gastar ora!



SEM MUITA COMIDA AO ALMOÇO

Uma coisa sobre a qual penso muitas vezes é sobre o facto de que se fosse rica de certeza absoluta ia ser também obesa. Gosto muito de comer, mesmo muito, gosto praticamente de tudo, sou bastante curiosa no que à comida diz respeito, e no fundo só o facto de ser assim como sou, a tender para as poupanças que não como este mundo e o outro.

Hoje em dias os meus almoços são praticamente sempre redon, (para quem ainda não tiver lidado que esta magnifica palavra, significa restos dontem) às vezes sobra mais redon outras vezes sobra menos, uma vezes como menos ao jantar e sobra mais para o almoço. Conclusão como bem, mas como menos no geral, poupo mais, e como diz o meu avô a receita para viver muitos anos é comer pouco e trabalhar muito, é capaz de ser verdade, principalmente no que diz respeito a essas coisas que andam para ai mais processadas que a Lili Caneças, essas bolachinhas tão boas e esses snacks tão saborosos...




PERFUME

Uso um baratuxo de manhã depois do desodorizante só porque lá está, perfume esse cuja maravilhosa essência perdura por sensivelmente 5 segundos, pouco mas intenso, mas por isso é como se não usasse não é?
Gosto de pessoas bem cheirosas, mas vai-me chegando não cheirar mal.
De resto no geral detesto a publicidade a perfumes, a perfeição, o glamour, a paixão louca não vão à minha festa de anos, também não gosto muito de flores prefiro plantas.

ps: Mas se alguém me quiser oferecer um bom perfume que dê um novo odor à minha existência não digo que não!





6.10.14

Spoiler profissional: Amigos Improváveis (Intouchables)


É um filme tocante, sem chocar, impressionantemente leve em simultâneo, bastante bem humorado. Aborda sem chegar perto de ser moralista o preconceito e coloca em evidência uma coisa bastante relevante, o facto de nada valerem estudos, estatutos, pedestais em determinadas áreas, se não em todas, se não existir vocação efectiva e o que consuma a vocação é fazer-se o que se faz pelos motivos certos, é querer trabalhar-se em determinada área por uma razão forte que esteja em conivência efectiva com o fim dessa área. Os médicos salvam pessoas, os médicos devem ser médicos por desejo de ajudar ou similar, qualquer outra razão não chega e terá consequências possivelmente para gente a mais.

Neste caso, no caso deste filme, não existiu nenhum motivo certo, mas existiu a maneira certa de lidar, uma maneira marcada pela espontaneidade e pelo bom astral.

Nesta história verídica os protagonistas são um homem rico, tetraplégico, e um rapaz que vem de um contexto complicado e que demonstra apesar de total inexperiência naquilo que vai fazer, ou seja sem nenhuma teoria metida à mistura, estar à altura do desafio pela naturalidade, espontaneidade, entusiasmo com que se dedica ao que por obra do acaso lhe caiu nas mãos.

Voltando aos motivos certos para se fazer o que se faz, entendo que o prevalecimento de desejos de dinheiro, estatuto, segurança, controle não consumam as razões certas para se ser médico, professor, educador, terapeuta, enfim e tudo o resto.

É muito raro os fins justificarem os meios.


5.10.14

A casa nova, a ansiedade, a realidade e a alegria

Foram anos a pensar demais sobre como seria, sobre quais as almofadas certas, sobre a cor do tapete, o tecido dos cortinados, a textura dos panos de cozinha. Foram anos a fazer 1001 combinações, a pensar como é que vai ser, a pensar nas inesgotáveis hipóteses, e como é angustiante ter hipóteses...a liberdade quer-se com contingencias.
Foram anos de ansiedade, por vezes de uma ansiedade alegre, de outras vezes uma ansiedade doente.

Porque é que estou aqui? Já vão saber!


Mas enfim que chega a realidade, o dia em que é verdade, o dia em que se vão fazer escolhas concretas, com constrangimentos, com liberdade condicionada mas avassaladoramente livre, o dia em que se consuma um sonho, que de tão sonho se torna inacreditável mesmo quando já está materializado em mesas, cadeiras, camas, armários, pratos e frigideiras. Estou a crescer! e ainda agora era uma criança...será que já não sou? Sou. É a criança dentro de nós que nos permite a felicidade e a mais profunda tristeza. Para o bem e para o mal nunca deixamos de ser a criança que fomos, que não sabe, que não percebe, que brinca, que gosta de festas.

A casa nova tem dois gatos que são meus, já não são da minha mãe ou da vizinha do lado, já não são do carro que ainda está com o motor quente, são meus e vivem em minha casa. Um dia os bebés também não serão os da prima, da amiga, da conhecida, do resto do mundo, um dia terei um bebé meu e dele e já aprendi que não vale a pena dedicar-me ao passatempo das ansiedades, não serve para nada, não vai mudar nada, não vai levar ao controle muito pelo contrário.

A casa nova não é perfeita, mas nunca teria do o ser e nunca o poderia se-lo porque tal como não existem outras coisas, a perfeição é uma quimera inexistente. O sofá foi barato, possivelmente o mais barato possível, a televisão é a mais pequena que havia mas vê-se tudo muito bem, não há máquina de lavar, lavamos a roupa na máquina que há a 5 minutos daqui. Temos uma caixa de fruta para pôr as revistas que fui buscar ao lixo, o Davi detesta que eu vá ao lixo, mas eu não faço tudo o que ele quer! gosto muito dela, mas tive um bocado de vergonha quando vim com ela para casa...
Não temos uma bimby, no frigorífico cabe o essencial, comprei um cacto de pedra, branco fashion e não me arrependo, ficou bonito.

Não me cinjo estritamente ao essencial, se me cingisse, continuaria a ter como sofá aquela cama de solteiro dele e como mesa, a mesa dobrável do campismo, se chegava? perfeitamente, é preciso pouco para viver.
Se é pobre quem tem comida, um tecto mesmo que de palha para se proteger do sol e da chuva, formas naturais de se proteger da doença, mas não tem uma televisão de 30 polegadas com um sistema de som robusto? Lamento mas não é. Há vida plena e quiçá a felicidade efectiva mora para lá da do 1º mundo onde temos o privilégio de viver?

Enfim continuando, orgulho-me por conseguir fazer escolhas apesar de tudo, e sim pragmáticas, o pragmatismo é talvez a minha principal qualidade. Tenho uma tendência para a ansiedade, mas lido com frieza e sensatez com a realidade, escolho de forma pragmática, lá está, e orgulho-me de ser muitas vezes o primeiro rato asqueroso e querido a fugir do barco, pretensão à parte e água benta quanto baste, vejo o buraco antes de ele aparecer, é claro que já cai para dentro de uma série deles.




A casa nova fez-se-me aparecer nos olhos umas lágrimitas de qualquer coisa entre a alegria, e a tristeza, o medo e não sei quê, a casa nova, ou melhor a porcaria dos móveis fáceis de montar, e não é que foram mesmo, deram-me uma dor de costas que ainda amanhã se vai fazer sentir, a casa nova, ou melhor tudo o que ela simboliza, evidenciou uma coisa com que vou ter de lidar, já não à saída deste barco, agora sou um gato e não gosto de água, agora é continuar em frente e fazer frente a tudo o que há de vir, ir ao sabor do vento,depois içar as velas para controlar a rota, resguardar tudo para fazer face à tempestade, limpar o chão para não escorregar, rodar o leme até ficarmos tontos, descer a ancora quando for preciso pensar, deitar fora a bússola e seguir sem destino, chegar ao fim e ficar a contemplar o sol, chegar ao infinito e sorrir. Quando se chega ao fim já não somos ratos, nem gatos, somos pessoas completas, há magia em chegar ao fim no fim.

Enfim casa nova, a porcaria do chão para lavar, a casa de banho sempre porca, o lava loiça que parece que anda a parir pratos.



Um barco desgovernado, mas com madeira feita de amor.