11.12.14

Ainda existe quem se dê ao respeito.

O facebook, bendito seja! está sempre cá para nos tirar da santa ignorância e hoje deu-me a conhecer a história de um apresentador de televisão que processou o estado português, Para quem não sabe está aqui a dita.

Manuel Luís Goucha é um homem de meia idade, homossexual, elegante, culto, divertido, profissionalmente capaz, entre outras qualidades e defeitos, com auto-estima e por acréscimo respeito por ele próprio e embora não lhe gabe o emprego que tem há muitos anos num programa de televisão corriqueiro num canal que já viu muito melhores dias.

Como profissional há quem goste ou quem não goste pelas mais diversas razões, como pessoa merece ser tratado com imparcialidade na justiça no que diz respeito à sua orientação sexual, roupa que veste e modo de agir, características justamente ligadas a essa orientação, que é um directo que lhe assiste e que não deve ser alvo de observações num contexto judicial.

Porque de resto a questão que levou à justiça nem foi sobre uma ofensa directa ao direito a ter a orientação que lhe aprouver, mas o facto de pejorativamente terem sugerido que era um profissional de televisão do sexo feminino, uma apresentadora, na eleição justamente de melhor apresentadora do ano, eleição que de resto ganhou e isso ofendeu-o, o que é absolutamente legítimo, eu sou uma mulher e não gostaria que me viessem dizer que sou mas é um homem, porque a minha roupa é larga e sóbria e porque tenho trejeitos masculinos. (não é o caso mas podia ser).

Isto resumiu-se a uma brincadeira de um programa de brincadeiras, nada de novo, nada que não se faça a toda a hora, mas não é por se estar a brincar com alguém que esse alguém não tem o direito de se sentir ofendido.

Porém ser homossexual embora lhe transpareça no estilo, como transparece a heterossexualidade nos heteros, não é uma qualidade nem um defeito, é uma realidade, tal como ter olhos castanhos e o cabelo grisalho.

Ser homossexual não faz com que deva aceitar ser alvo de gracinhas homofóbicas, ser homossexual não é pôr-se a jeito de ser gozado.

O que a juíza que tomou conta do caso que o Goucha levou á justiça achou, foi basicamente que ele só tinha tido o que merecia, porque quem atiça as brasas pode queimar-se, ou seja quem se coloca a jeito,  não tem nada de se queixar quando considera que foi desrespeitado, porque é culpado, veste roupas coloridas e quem veste roupas coloridas pode ser considerado uma "apresentadora". Caso encerrado, ninguém vai ser punido, podem continuar a gozar com o Goucha à vontade e a dizer que ele é uma pessoa do género feminino.

Há juízas e juízes que também devem achar que mulheres vitimas de violências doméstica, não têm direito a processar os agressores pelas ofensas feitas, afinal deixaram ou não deixaram queimar a merda do jantar? afinal sorriram ou não sorriram ao padeiro? afinal de contas o Porto perdeu ou não perdeu? Não, não são só os benfiquistas que batem nas mulheres.

O que é triste nesta história não é a história em si, até porque aconteceu com uma pessoa com estofo para lidar com ela e para lhe dar a visibilidade mediática que ela de facto precisava, triste é perceber que não há inibição, neste caso teria sido muito prudente, de se ser nitidamente preconceituoso e de se tomarem decisões com base em preconceitos, deixando impunes mesmo quem a brincar é certo atentou contra a dignidade de uma pessoa.

Dado isto, quantos não sofrerão injustiças à mão da justiça, não tendo capacidade de resposta, nem judicial, muitas vezes nem psicológica ou de conhecimento no fundo para compreender o que lhes estão a fazer.

Os preconceitos só são saudáveis ao longe, à noite numa rua escura, em que todos os gatos são pardos. Os preconceitos ajudam-nos a sentir mais seguros porque nos levaram a trocar de passeio e mudar de rua quando se viu alguém ao longe. Ao perto devem repudiar-se os preconceitos e procurar a verdade que cada um encerra em si.

Um homossexual é mais do que uma pessoa que tem sexo com pessoas do mesmo sexo, um cigano é mais do que uma pessoa que rouba na loja do chinês ou que nunca roubo na vida mas achamos que é impossível, um gordo é mais do que uma pessoa que come muitos doces, uma pessoa luso-africana é mais do que alguém que vive na Amadora mas que também pode viver em Cascais, quem sabe.

Não sei se me expliquei muito bem, mas começo a perceber que independentemente de nos explicarmos melhor ou pior, cada um vai entender como quiser.
Hoje vinha a pensar numa coisa...é possível agradar a gregos e troianos? Não é, respondi a mim própria, vou tentar deixar de inconscientemente o querer...mas o inconsciente é um osso duro de roer.






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